sexta-feira, 7 de outubro de 2011

DEIXE EM CASA O QUE NÃO PRECISA

       O celular ao despertar lhe causou enorme susto. Nunca gostou de sustos. Abriu os olhos num pulo e acionou a soneca. Mais cinco minutos, e se encaixou de novo no abraço dele. Cinco minutos depois despertava novamente em outro pulo. Levantou-se então da cama e foi para o banho. Já no banho sentiu falta de algo, mas ainda com sono não soube identificar o que. Whatever... a medida que fosse despertando do seu momentaneo estado de zumbi, identificaria aos poucos o que lhe faltava... Voltou para o quarto para se arrumar apressada. Um beijo nele : "bom dia". Outro beijo com a frase corriqueira: "estou atrasada..." "de novo..." ele deve ter pensado... Vestiu-se rapidamente, catou tudo que precisava. Celular... carregador... esparadrapo (pudera,sapatos de salto às vezes machucam...). Uma olhada ao redor... sentia como se estivesse esquecendo alguma coisa... Mais uma olhada no espelho... mais uma olhada dentro da bolsa... volta ao quarto que não é seu enquanto ele tira o carro da garagem. "Está faltando alguma coisa..." pensa novamente, enquanto procura olhando de novo ao redor. Entrega ao acaso, resolve ir embora... Carona até o ponto de ônibus. Mais alguns beijos nele, e uma rápida olhada no carro... "está procurando algo?" "Pois é, não sei bem... sinto que estou esquecendo alguma coisa..." Pega e ônibus e ruma para o trabalho.
       Chegando ao trabalho, normal. Bom dia sorridente a todos, pão na chapa na mão. Não identifica o que falta ainda. Executa algumas tarefas, sente-se mais leve e tal. Mas eis que por volta da metade da manhã... meio que como um soluço, um solavanco, um sobressalto, ela percebe o que lhe falta. Percebe quase que surpresa. Na verdade, surpresa de fato... percebe e diz a si mesma chocada: "meu deus (não que seja religiosa), estou sem dor de cabeça..." Para, dá uma respirada e se concentra nas sensações do crânio. Seria possível?? Depois de 17 dias aguda, direto, sem parar, a dor teria lhe dado uma trégua?? Se concentra no crânio de novo enquanto todos a sua volta gritam. Não dói... nenhuma dor... nada... quer dizer... uma ou 2 fisgadinhas tímidas de tempos em tempos, mas de fato... nada agudo...nada queima... nada... Com imensa estranheza constata que era a dor que lhe faltava. Era a dor que estava "esquecendo"... Sentiu-se de repente tão bem... o bom humor que já lhe era de costume estava em maior tamanho nessa manhã, era verdade... Mas não havia a sequer atribuído ao fato de estar ainda mais bem humorada por estar na verdade mais aliviada. Que estranho identificar que um mal estar possa, devido a sua constância, se tornar quase que um companheiro... um pertence... a ponto de pensar que ao sair sem dor, que estaria esquecendo alguma coisa!
       Desfranziu a testa concentrada para dar mais lugar a suavidade. Acariciou levemente a testa, para não pressionar nada... Certificou-se...Relaxou os músculos da face... Mexeu nos cabelos com calma... Soltou-os para ficar ainda mais leve...Revolveu não lutar contra nada. Não se contrariar com nada que ouvia. Não se aborrecer com nenhum fator externo. Não se cansar com nenhuma gritaria. E ficou feliz ao ver que funciona. A abstração em graus leves, ainda funciona! Olhou para dentro de si, procurou seus melhores sentimentos. Suas melhores ações. Seu melhor sorriso. Vestiu de leveza seu rosto e pegou o celular para ligar para ele. Estava feliz e pôde dizer sorrindo: "descobri o que estava faltando... estou sem dor de cabeça..."

Um comentário:

  1. As vezes acabamos nos adaptando a coisas que não nos fazem bem..e quando vão embora nem sentimos falta de tão acostumados que estamos..ja senti isso.

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