Eu não sei exatamente quando foi
que ela me pediu um texto. Andava insegura, incerta de seus anseios. Lembro de
me pedir um texto como forma de ali se encontrar. Imaginei que seria como um
mecanismo para que ela se visse de maneira diferente. Um espelho de bons reflexos. Sei bem como é... já quis um também....
Escrever não seria problema.
Demandaria um pouco de tempo, caneta ou lápis, qualquer pedaço de papel. Não
mais que isso. Disse que tudo bem, e confesso que fui para casa tentar.
Coloquei-me a postos: pus-me severamente
concentrada. Olhei vezes e mais vezes para o papel, mas nada saía... Eu
pensava, pensava, pensava... E nada de substancial nascia. Absolutamente nada
de substancial. E não tinha jeito, não podia ser qualquer coisa! Como
presentear uma grande amiga, tão presente, com dúzias de palavras mal escritas?
Junções formulando conceitos superficiais de sua pessoa? Separações entre o ser
e o não ser com vírgulas vazias, dois pontos reticentes, e reticências mil???
Não dava sabe... Não mesmo... guardei tudo chateada, e resolvi esperar. Esperar
e deixar ao acaso.
Ocorre que o acaso demorou para
caramba... Ou não. Talvez fosse o tempo necessário, para redescobrir nela
alguma coisa que não estava lá quando a solicitação foi feita. Porquê na época
me parecia que faltava algo que não me instigava a criatividade necessária para
uns bons dizeres. Eu às vezes olhava para ela sem que ela percebesse, como quem
procura um ponto de partida para começar. E mesmo quando o estalo me ocorreu,
demorei um pouco para identificar o que era. O que exatamente havia “startado”
o processo. O que mudou afinal para que algo tivesse brilhado para que... ahhhh
sim... estava claro agora. Literalmente claro. Era isso. Era o brilho. O brilho, cara... Na ocasião lhe faltava o brilho! Na
verdade, arrisco dizer: esse brilho em tese nem existia! Não esse... um brilho leve... um brilho
alegre, um brilho de mãe. Tão visível que de longe a vejo chegar quando nos
encontramos, e ela brilha e sorri já láááá de longe. Vem se destacando,
destacando, até chegar pertinho e me responder como vão as coisas. E até
transbordar de mais brilho ainda quando lhe pergunto “e como vai o
filhotinho???”
E brilha muito, e muito mesmo....
Um brilho sereno, convicto, maduro. Um brilho de quem não precisa de mais nada,
porquê acordou um dia, se livrou de tudo de ruim, e do nada se encontrou. Se
encontrou, correu para o espelho e pelo visto gostou muito mais do que viu.
Porque no final das contas, espelho
nenhum faria ou faz milagre. O espelho só reflete nossa imagem estática
acompanhada daquela boa parcela da alma que escorrega pelos poros e desemboca nos nossos olhos, através do
brilho. Sendo que para que isso ocorra, é necessário estar feliz!
Para Dídi.
Nunca é tarde quando a intenção é boa, e quando aplicamos
amor a ação!
: )