Calor infernal... te resta o que? Um banho... Janta, enrola e vai para o
banho. Alguns minutos, muitos até. Apenas com água caindo, pensando em
nada, só refrescando. Sai do banho ainda úmida e tudo cheira a
refrescância, mentol e ervas. Fazer de uma terça-feira um dia incomum?
Claro! Por que não? Rotinas, assim como regras foram feitas para serem
quebradas... toma a mão um copo com uns três - largos - dedos de vinho.
Não precisa de mais que isso. E para quebrar o silêncio? Hoje blues:
Ella Fitzgerald, 1963...e ... ui... maravilha... relaxamento e silêncio
mental absoluto. De algemas já nos bastam as do trabalho. Avista a
janela e... por que não? O pouco do vinho já se foi... toma à mão agora
um cigarro. Vai para a janela e lá fica. É mais fresco. Fuma o cigarro
olhando as árvores,as casas, as luzes.
Intoxicar-se para purificar-se... paradoxo? Talvez. Pecado? Duvido.
Não acredito em nenhum. Prefiro, vejamos... pequeno delito? Perfeito!
Pequeno delito. Com o som entrando pelos ouvidos, pelo corpo...
baixo...de 1963. Excentricidade? Nem tanto. À meia-luz tudo é tão mais
suave... Só um momento de abstração de si mesma. Numa terça-feira com ar
de sábado, em agradável própria companhia. Rompendo pequenas regras,
proporcionando-se simples prazeres. Da porta para dentro é o seu mundo.
E no seu mundo você faz o que quer de si. O que quero? Por hora, só
sair da rotina. Borboleteando e cantarolando em poucos trajes
levemente...
Texto originalmente publicado no Coma Anárquico.