A maior parte das vezes que chego em casa – senão todas – opto (quase
sempre), pelo silêncio. Seja lá de onde quer que tenha vindo, o que quer que
tenha feito, há algo no mundo que me causa um outro algo enlouquecedor que só
passa assim: no silêncio. Na ausência de vozes, de sons. De música, de gritos,
de fúria, de opiniões. No completo, acolhedor, e absoluto silêncio. Não só o da
porta do banheiro trancada e do contentamento por enganadores poucos minutos de
paz. Não só o da cama ao deitar, o da tv enquanto não é ligada, ou o da pausa
entre uma música e outra que toca no celular sem ser ouvida com atenção. Mas
aquele realmente grandioso. Imponente. Ensurdecedor. Aquele que para ao seu
lado lenta e calmamente e te diz com voz mansa: “_somos só eu e você aqui,
agora se ouça.” Se ouça...
Você
para então, e pensa. E paradoxalmente ou não, percebe que sem o silêncio é
impossível se ouvir. Que mesmo no silêncio você precisa forçar, e forçar... e
que às vezes pode até conseguir se ouvir um pouco. Mas nem sempre consegue se
encontrar. Que sua voz interna vem e ecoa de onde não se vê. De onde você não
sabe a localização. Vem da direita? Da esquerda? Vem mais da frente? Vem mais
de trás? Você busca... busca... Até que o primeiro ruído apareça no ambiente, e
o silêncio te diga: “_ seu tempo acabou, volto outra hora.” E então quando
estava quase e encontrando com ajuda da bússola do silêncio, você se perde
outra vez... se perde mas pelo menos vê claramente que em meio aos barulhos da
vida é realmente impossível se ouvir ou se encontrar.