quarta-feira, 6 de novembro de 2013

No silêncio


                 A maior parte das vezes que chego em casa – senão todas – opto (quase sempre), pelo silêncio. Seja lá de onde quer que tenha vindo, o que quer que tenha feito, há algo no mundo que me causa um outro algo enlouquecedor que só passa assim: no silêncio. Na ausência de vozes, de sons. De música, de gritos, de fúria, de opiniões. No completo, acolhedor, e absoluto silêncio. Não só o da porta do banheiro trancada e do contentamento por enganadores poucos minutos de paz. Não só o da cama ao deitar, o da tv enquanto não é ligada, ou o da pausa entre uma música e outra que toca no celular sem ser ouvida com atenção. Mas aquele realmente grandioso. Imponente. Ensurdecedor. Aquele que para ao seu lado lenta e calmamente e te diz com voz mansa: “_somos só eu e você aqui, agora se ouça.” Se ouça...

                Você para então, e pensa. E paradoxalmente ou não, percebe que sem o silêncio é impossível se ouvir. Que mesmo no silêncio você precisa forçar, e forçar... e que às vezes pode até conseguir se ouvir um pouco. Mas nem sempre consegue se encontrar. Que sua voz interna vem e ecoa de onde não se vê. De onde você não sabe a localização. Vem da direita? Da esquerda? Vem mais da frente? Vem mais de trás? Você busca... busca... Até que o primeiro ruído apareça no ambiente, e o silêncio te diga: “_ seu tempo acabou, volto outra hora.” E então quando estava quase e encontrando com ajuda da bússola do silêncio, você se perde outra vez... se perde mas pelo menos vê claramente que em meio aos barulhos da vida é realmente impossível se ouvir ou se encontrar.

sábado, 16 de março de 2013

ANGUSTIANTE RECOMEÇO SEMANAL

Das espectativas para uma segunda-feira pode-se dizer categoricamente que o que se tira em geral é uma espécie de  inquietude que rasga por dentro. A sensação da volta a rotina que te faz ser cuspido da cama num horário que não lhe é o natural, para efetuar tarefas que muitas vezes não lhe são agradáveis, conviver com pessoas que ocasionalmente não lhe são simpáticas... A violência diária a qual somos sujeitados já no despertar matinal.  A tortura cotidiana que te massacra aos poucos, te tira a leveza e te faz questionar-se exaustivamente. A necessidade de adaptar-se, adequar-se ao meio, podar-se em função de um coletivo ao qual internamente nem sempre nos consideramos sequer parte complementar. Mas que ainda assim, na busca pela constante adaptação, nos forçamos a nos regrar. Nós próprios, carrascos de nós mesmos. Nos violentando em prol do "todo", quase que consenso universal. Sendo eventualmente ou geralmente regra geral. Nos mutilando mentalmente... mesmo que em alma jamais nos dobremos.
Afinal, há que se ter ao menos um plano onde possamos nos considerar intactos.