quarta-feira, 27 de abril de 2011

NOSSO ABRIGO VOLUNTÁRIO

      O assunto era "entrar no corpo", digamos assim... e o que foi dito referia-se a um desejo de ultrapassar os poros, adentrar ao corpo alheio, e por lá ficar, pousar, descansar... Me ocorreu então um leve pensamento quanto ao corpo feminino como uma casa. Um local onde abrigamos ocasionalmente um ser (por 9 meses), e voluntariamente um homem... o espaço que damos a um homem por escolha própria, de nossa parte interior mais densa. Onde deixamos que o outro entre para que por lá busque e encontre o nosso melhor. Para que por lá ele relaxe e sinta-se a vontade.
      Seria natural encarar o comentário como um comentário feminino, afinal há que se considerar intensidade e sensibilidade no ponto de vista, e a auto-percepção e designação dos atos de quem promove, como assim ou assado por ter-se consciência plena de como e porquê o faz. Da intenção poética que se tem quando se abre as portas de seu corpo para que o outro entre, tome um chá ou café, sinta-se em casa e diga a que veio. Mas, para surpresa (ou não), havia sido um comentário masculino.Um concentrado devaneio masculino.
     Fez-se então inevitável traçar um pararelo entao entre o comentário (devaneio ou não) e um trecho da Anais Nin (escritora que muito admiro) e mostrar claramente a união entre o pensamento feminino e masculinho desembocando num mesmo núcleo. Numa mesma percepção quanto a um ponto chave. Na mesma concepção de intensidade, abrigo e relaxamento. Por que tem que soar tão incrível?
Segue então...

"Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte. Ele não é solitário. Ele é ocupado. A memória de nadar no líquido aminótico lhe dá energia, completude. A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia. Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra. Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela."
Anais Nin

Enfim, sem mais no momento... rss

segunda-feira, 25 de abril de 2011

NOTAS "MADRUGAIS"

      Dizem que da insônia brotam várias idéias boas né? Que há uma espécie de “inspiração noturna” que acomete as mentes pensantes e as levam à uma total exaustão de idéias e criatividade digna de mestres e artistas diversos. Quase um nirvana, um êxtase, um caminho rumo ao ápice de qualquer coisa, geralmente para lugar algum... Bem, no meu caso, sinto-me sem sono e mesmo após 2 chopp’s e alguns desenhos, há uma certa dor de cabeça e ainda assim insisto no Jefferson Airplane – baixinho, claro – à meia-luz, para dar um clima nostálgico e tentar fazer com que o sono chegue.
      Ocorre que, de fato ele não chega. E quanto mais música se escuta, mais sua mente funciona, e mais você quer pensar, mais agitado fica, e a madrugada começa a te rasgar por dentro, num grau de ansiedade que filme algum supre, principalmente se você não é adepto de TV e o controle remoto não lhe inspira muita simpatia...Você para, pensa. Vai até a janela... talvez pense em fumar um cigarro, talvez se pergunte se ainda sobrou um pouco daquele vinho, mas no entanto, o que quer que faça não traz o sono. E a verdade é que, com inspiração ou não, a mente na madrugada realmente trabalha de forma estranha, e as vezes até mesmo surreal, como a idéia caótica de ir até a cozinha com seu traje de zumbi e passar aquele cafezinho as 2 da madrugada – cafeína?? Ah meu bem, desgraça pouca é bobagem...
      O que quer que passe pela mente na madrugada tem às vezes aquele “Q” de novidade e inquietação. Uma vontade de fazer algo novo, de sentar e esperar pela idéia brilhante, pela (novamente) “inspiração noturna”, pelo surreal que sua mente te faz acreditar que vai brotar, quase que naturalmente, e que às vezes brota, às vezes não. Vai depender de se é de fato um artista nato – salve todos, e que trabalhem mais e mais pelas madrugadas! – ou apenas mais um semi-zumbi, que troca o dia pela noite voluntaria ou involuntariamente.
      De qualquer forma, após dias sem dormir de “bate-pronto” você começa a notar que existe sim uma magia na madrugada. Você levanta, vai até a janela, a abre e o que vê é a cidade em silêncio, com poucas luzes acesas. E é tudo tão sereno, lá fora parece tudo tão calmo, tão tranqüilo... com os poucos carros quase que passando acima do chão, planando pelas ruas tão suavemente, que aquele cigarro na sua mão já não faz o menor sentido... e o café perde a razão de ser... e a música acaba sem que você perceba. E do nada, quase que inexplicavelmente o sono vem. E aí, desliga-se o abajour, da-se boa noite a si mesmo, e espere para o próximo turbilhão de inquietação do dia seguinte, porquê sua mente por hoje – friso bem, POR HOJE – cansou. E amanhã deve estar preparada para mais um surto de criatividade e introspecção noturna. Então por hoje, boa noite.

domingo, 24 de abril de 2011

EMBRIAGUEZ VOLUNTÁRIA

Achei propício postar esse novamente... não sei por que... rs

EMBRIAGUEZ VOLUNTÁRIA

Tirou um dia para embriagar-se como quando jovem, havia um tempo que não fazia isso...
Elegeu-o pensando na temperatura do dia.
Quente... o dia estava realmente quente.
Não devia, mas também não vai morrer por isso, não é mesmo?
Então foi...
Mais uma, mais outra... e mais uma...
A saideira!
Outra... e mais outra... e a última... agora é a última!
E tudo já estava em 3D!
Repensou o exagero: droga, por que?
Porque quis oras!
Não havia combinado consigo mesma desde o início da noite?
Então, encare e siga!
Vamos lá... um passo... mais um passo... mais um...
Putz, nunca foi tão difícil!
Pera lá, também não é tanto... concentre-se...
Mais um passo... mais um... taxi! Viva!
Entra, senta e relaxa... ufa!
Chega em casa... há uma festa acontecendo.
Dá boa noite aos presentes sorrindo.
Mais um passo, mais um...
Tirou o dia para voluntariamente embriagar-se, não?
Saideira com os convidados então, ora veja!
Toma a... sétima? décima? Não importa... toma mais uma saideira.
Desce mal...e de novo se pergunta: Ai droga, por que?
Olha em volta e sorri.
Sem motivo algum, sorri de novo.
Conversa com os presentes, tira os sapatos... sorri mais... gargalha até... solta os cabelos...
Cantarola umas 3 músicas e levanta sem dizer nada.
Vai para o banho e ensaboa-se
Uma vez... outra... mais uma...
Sai e cai na cama de short... convenhamos, tornou-se impossível achar uma blusa no escuro!
Dorme.
Acorda tarde, a cabeça pesa.
Levanta, se olha no espelho... olheiras...
Se pergunta sóbria: merda, pra que?
Porque quis, ora pois.
Porque quis.
Elegeu um dia para exagerar, então... missão cumprida!
Toma outro banho e desce pro previsível café-da-manhã:
Água e análgesico.
Enquanto se senta no sofá sorri internamente, achando graça de si mesma.
Sacode os cabelos molhados,manda o analgésico pra dentro e comenta com um sorriso no canto dos lábios, olhando nos olhos do cachorro:
_ é... realmente, sinto que já estou velha demais para isso...
E por algum motivo, sente que o cachorro ao encará-la sério e disciplinado, pensa silenciosamente:
_ concordo, está mesmo...

: )

segunda-feira, 18 de abril de 2011

COLORINDO MANDALAS

Para quem ainda não tinha lido...

COLORINDO MANDALAS
Senta, respira e balança os cabelos.
Dá uma olhada ao redor...
Deixa cair a alça do vestido
Pensa, e respira de novo.

Parece inquieta.
Dobra as pernas, desdobra, pensa mais
E respira.
Fundo... respira fundo novamente.

Prende e solta os cabelos,
Balança... procura com as mãos algo entre eles
Na cabeça, na mente,
Nos pensamentos.

Olha em volta, suspende o vestido
O deixa voar...
Voam e balançam o vestido, os cabelos, e os pensamentos... é até suavemente sensual...
Diminui o ventilador e volta pro lugar.

Então senta e respira novamente.
Desta vez não pensa em mais nada...
Ouve música com atenção enquanto colore mandalas na cama calmamente.
Enquanto não pensa, sente-se mais relaxada...e conclui assim então
Que pensar, cara... lhe esgota a alma.


 - Florbela Espanca : “...O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudades… sei lá de quê!”

sexta-feira, 15 de abril de 2011

HOMENS-MENINOS, MULHERES CAPETAS...

     Particularmente gosto de ser mulher. Posso dizer que na verdade, gosto muito. Me aceito e respeito como tal. Mas os homens... são para mim encantadores... e mais que isso... me encanta a fragilidade masculina... principalmente dos que se armam de rocha para lutarem com o mundo...doces meninos vestidos de homens, com suas barbas suaves, e suas rugas preocupadas nas testas. Na busca pelo eterno colo quando se desarmam, derretendo-se sutilmente às mais contidas manifestações de carinho femininas. Inconscientemente vulneráveis à presença e atitudes das mulheres... e segue, leve trecho que gosto muito do livro Mulheres, de Bukowski:

"... gostava das cores de suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura ..." 

     Charles Bukowski hein? Quem diria... o homem, o escritor, o bêbado, a rocha... levemente vulnerável... encatadoramente frágil... devia estar bêbado quando se desarmou e escreveu isto... rs

quarta-feira, 13 de abril de 2011

IMERGINDO VOLUNTARIAMENTE...

Imergir: Afundar, mergulhar, meter na água ou noutro líquido: Imergiu o corpo na banheira... Considerando-se a sensação relaxante que se tem quando imergimos ao fundo da água, ao silêncio profundo que nos envolve, e a lembrança confortante do útero como núcleo mais seguro entre todos, podemos considerar que voluntariamente desejaremos nos afundar... para sumir dos lugares... para buscar nosso Eu... para desaparecer do mundo... exatamente assim, voluntariamente... onde nos alcançam apenas nossos pensamentos e eventuais devaneios...

Sejam bem-vindos a voluntariamente imergirem, e sentir-se a vontade...